Tuesday, October 29, 2013

ABRACADABRA



Anunciando Halloween, Abracadabra é o novo longa de Lucile Desamory, com a atuação sonora de Nicholas Bussmann. A premiére para convidados foi ontem 28.10.30 no Cinema Paris em Berlim.
 
 Nicholas Bussmann und Lucile Desamory no Cinema Paris - 2013©Laura Mello

Um filme sobre o que? Um filme de suspense, com certeza. Começa com Grusel (Horror), a tensão vai aumentando, até chegar a um ponto, e dele não sair mais. Alguns sustos inofensivos, pois se repetem, e no fim, já os conhecemos, embora ainda não saibamos qual a sua origem.
Uma solução para o mistério não há. Só a constante tensão e o som, o sound design, a música, todos eles formam um elemento sonoro só, com um papel tão essencial quanto as imagens. Afinal, se não se pode identificar a história, então pelo menos as personagens da narrativa: imagens - em cenário cuidadosamente produzido - e o som, transmitido na sala através do sistema Dolby Surround 7.1 do Cinema Paris.
Neste sentido, os atores são quase parte do cenário, quase elementos de efeito, par a par com o ruído do vento ou dos pássaros pernaltas da paisagem belga. Pouco falam: interagem entre si e até mesmo com os alto-falantes dentro do cinema. "É som? De onde...?" - soa dentro da cabeça da personagem principal enquanto seu olhar circunda a sala, as paredes pintadas de nuvens.
O filme de Lucile Desamory é uma obra-prima de intermídia: nele, as linguagens visual e sonora "conversam", repetição e recursividade são os recursos utilizados pelos autores para familiarizar o público aos poucos com os elementos do filme. Longas passagens em plano aberto anunciam temas visuais a serem explorados no cenário. Sequências narrativas são apresentadas utilizando-se apenas recursos sonoros, e repetidas à exaustão, mesmo quando não fazem o menor sentido cronológico, e então é a vez das imagens repetirem-se, completando ligações nunca dantes esperadas.
O espectador vai aos poucos abandonando a idéia de tempo cronológico, e quem se liberta flutua na profundidade das paisagens, deixando-se levar pelas orelhas, descontinuamente, através dos inúmeros corredores e quartos da antiga mansão onde foi filmado.
O som extremamente presente, que parece um erro de mixagem no início do filme, cumpre sua função de arauto, mostrando ao espectador que o som está aí sim e como! Através da utilização refinada e econômica da projeção sonora em Dolby Surround, até mesmo a sala de cinema acaba sendo envolvida na obra. E durante os letreiros, como tema final do filme, a autora-cantora-cenografista enuncia a pergunta-resposta ao início deste post "Why should we name it?"




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