Laura Mello e Paulo Lins no vermelho! |
A noite de ontem foi cheia de surpresas
no Roter Salon: Paulo Lins, Ricardo Domeneck, André Sant'Anna e João
Paulo Cuenca apresentaram trechos de suas obras no evento chamado:
Viva City Brasil , autores de língua solta, TEXTE - MUSIK -
PERFORMANCE. O título não é em vão, pois o formato escolhido
situou-se mesmo entre leitura, leitura cênica e performance, com a
participação dos atores Fernanda Farah e Roland Schroll.
André Sant´Anna
Meu predileto foi André Sant´Anna. O estilo do escritor radicado em São Paulo oscila entre a literatura e a música, as palavras fluindo em linhas melódicas, nem música nem idioma, e ao mesmo tempo, ambas as linguagens. Catapultados em série como em "Amor", ou proclamadas cuidadosamente, ironia musical e litária, como em "Vida", os textos de André Sant´Anna tem o poder de refletir, em sua própria estrutura, a contemporaneidade.
Meu predileto foi André Sant´Anna. O estilo do escritor radicado em São Paulo oscila entre a literatura e a música, as palavras fluindo em linhas melódicas, nem música nem idioma, e ao mesmo tempo, ambas as linguagens. Catapultados em série como em "Amor", ou proclamadas cuidadosamente, ironia musical e litária, como em "Vida", os textos de André Sant´Anna tem o poder de refletir, em sua própria estrutura, a contemporaneidade.
Ele
escreve como falamos hoje, o conteúdo é o que vemos e lemos todos
os dias em jornais, televisão ou internet. Seu motor é a repetição,
e eu penso em Andy Warhol, pois ele também repetia insanamente o que
os meios traziam, as marcas, nomes e caras dos out-doors e telonas
americanas. Após ver tantas Marilyns de tantas cores diferentes, o
que fica na memória não é a Marilyn, e sim, a repetição dela.
A leitura de "Amor",
traduzida e interrompida por slides de textos e imagens irônicas, me
fez pensar que talvez André Sant´Anna tivesse assistido televisão
initerruptamente por um mês, salvado toda esta informação em um
disco rígido, para depois cuspi-la de uma vez só, em um formato só
(o livro) segundo um algoritmo que seleciona palavras-chaves e as
reorganiza, repetindo-as, deslocando-as, trocando-as de lugar,
permutando-as, tudo isto em uma sintaxe bem simples. Sim, simples,
sem medo de ser feliz, pois afinal, a simplicidade gramatical
escancara o estado atual dos meios de informação, mas esta
discussão é uma outra.
O que eu queria dizer é que o texto de
André Sant´Anna reflete, na minha opinião, a mídia (impressa e
eletrônica), sem querer absolutamente tomar seu lugar, em um momento
em que ela é celebrada como libertadora ou abridora de portas, o que
é mesmo, mas ao mesmo tempo, liquidifica e transforma tudo em um
suco indiferenciado, onde qualquer palavra cabe em qualquer frase,
onde as palavras-chaves corretas são a alma do negócio.
Você é o que você lê e vê!
Ricardo Domeneck
O princípio da repetição vem à tona na leitura de Ricardo Domeneck, desta vez, em outro sentido. Enquanto para André Sant´Anna as palavras são matéria, meio, para Domeneck, elas são o fim. Elas não constroem, apenas são. Nesta noite, um dos assuntos abordados pelo escritor é a ditadura, um dos períodos brasileiros não esclarecidos, e neste sentido sua obra é louvável, tanto a literária quanto seu trabalho de performance.
O brasileiro não conhece esta situação, que os alemães vivem desde a década de 70 do século passado, quando o governo alemão desculpou-se e começou uma campanha de esclarecimento (Aufarbeitung = superação) do conflito entre a população, formada tanto por algozes quanto por vítimas do holocausto. Na prática, a Alemanha assumiu o erro, desculpou-se, e trabalha até hoje contra a ideologia nazista. Esta atitude, que o Chile acabou de vivenciar, o governo brasileiro ainda está nos devendo. E quanto mais artistas se dispuserem a abordar o tema, melhor.
Ricardo Domeneck
O princípio da repetição vem à tona na leitura de Ricardo Domeneck, desta vez, em outro sentido. Enquanto para André Sant´Anna as palavras são matéria, meio, para Domeneck, elas são o fim. Elas não constroem, apenas são. Nesta noite, um dos assuntos abordados pelo escritor é a ditadura, um dos períodos brasileiros não esclarecidos, e neste sentido sua obra é louvável, tanto a literária quanto seu trabalho de performance.
O brasileiro não conhece esta situação, que os alemães vivem desde a década de 70 do século passado, quando o governo alemão desculpou-se e começou uma campanha de esclarecimento (Aufarbeitung = superação) do conflito entre a população, formada tanto por algozes quanto por vítimas do holocausto. Na prática, a Alemanha assumiu o erro, desculpou-se, e trabalha até hoje contra a ideologia nazista. Esta atitude, que o Chile acabou de vivenciar, o governo brasileiro ainda está nos devendo. E quanto mais artistas se dispuserem a abordar o tema, melhor.
Mesmo assim, existem métodos e
métodos. O approach de Domeneck deixa a desejar, pois não dá espaço
ao leitor, tudo é muito óbvio, previsível e clichê. Trocentos
nomes de vítimas da ditadura são recitados, enquanto faces são
projetadas, sobre uma música de tensão crescente, numa performance
que poderia ter durado tanto 2 como 200 minutos, pois uma vez
apresentado o conteúdo, nada muda, nada se desenvolve, nada evolui.
Seu texto é impregnado de frases conhecidas, em linguagem
pseudo-intelectual, será que ele assistiu minisséries demais?
Na obra de Ricardo Domeneck fica
faltando o algoritmo, a maneira própria de processar a informação:
onde está o artista, qual a sua marca? Ou esta obra é documental? Ritual?
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