Ontem o bar no topo da colina em
Neukölln, passando a Hermannplatz, indo pro sul da cidade, à
esquerda. Uma locação especial, pois em volta só tem casas de
apostas turcas ou kebap-fastfood. Na verdade, minha imagem do bar
estava um tanto influenciada pela suposição do Wolfgang:
paquistaneses. Por que mesmo? Porque os dois bar tenders são
morenos? Porque o carinha que nos serviu tinha uma densa barba preta,
ah, e tem também o dj daquela última sexta-feira, com o qual eu fiz
questão de falar, porque a música estava muito boa. A
instrumentação das tracks não era muito diferente do que eu ouvia,
mastering catchy dos anos 80, muito sintetizador e compressor, com a
diferença de que eu não entendia uma palavra do que estava sendo
cantado. Não eram versões, eram apenas outras canções no mesmo
estilo da Billboard daquela época, a não ser pelo número que me
fez ir perguntar para o dj quem estava cantando: Miriam Makeba.
Mas voltando à suposição do Wolfgang, que o bar pertencia a paquistaneses. Lógico que não perguntei para o dj de onde ele vem, o tipo da curiosidade de quem acabou de chegar aqui ou de quem quer se conhecer melhor, e o que estava rolando não era nenhum dos casos. Pela cara eu chutei turco, mas na verdade isto não me interessava mais do que o fato da música ser super acessível, embora vinda de países distantes. Mas ontem fui lá sozinha, e sentei no bar, sem nenhuma intenção a não ser tomar uma cerveja antes de voltar a pé para casa, meu exercício anti-enferrujamento computadorístico. A cadeira me pareceu uma peça de design, (Mies van der Rohe? algo anos 50) só que com pés longos e encosto, o que é raro em bancos de bar.
Pedi a cerveja em alemão, embora já tivesse notado, da outra vez em que estive lá, que o bar tender não era alemão e não falava a língua muito fluentemente. Reparei na freguesia, enquanto minha atenção estava sendo constantemente distraída pela luz azul piscante da ambulância na rua, vinda do outro lado das grandes janelas. O bar é super confortável, grande e com poltronas e sofás antigas, nada de 10 mesas iguais cada uma com 4 cadeiras: a decoração era irregular, tanto nas peças quanto na distribuição delas pelo espaço. Ao meu lado esquerdo fui surpreendida por um telefone modelo Bell verde Perguntei ao garçom barbudo se ele funcionava e fui logo tirando o fone do gancho. Ninguém perguntou por mim, não dava linha.
Foi quando meu exercício de observação foi interrompido por respingos de água, vindos da pia exatamente do outro lado do bar, onde o bar tender tinha acabado de lavar um copo. Não disse nada, e reparei que a superfície do bar estava completamente respingada, e eu lembrei das letras pintadas na arquibancada do Sea World de Miami, nossa, fazem quase 30 anos: "Splash area". À minha risada e ao meu aviso divertido não ouve muita reação. Não demorou muito para o outro garçom splashear alguém, desta vez um cara que eu achei com jeito de pesquisador, sério mas disposto a humor. Ele estava de costas, e apesar da imagem construída (na minha cabeça, é claro), o garçom não se arriscou e me disse: "sag nichts, aber der ist komplett naß" (não diz nada, ele tá todo molhado). Eu olhei e vi a jaqueta do pobre, na altura do cotovelo, enquanto o atingido já se dirigia à porta: espero que o tecido seja espesso o suficiente.
Mas voltando à suposição do Wolfgang, que o bar pertencia a paquistaneses. Lógico que não perguntei para o dj de onde ele vem, o tipo da curiosidade de quem acabou de chegar aqui ou de quem quer se conhecer melhor, e o que estava rolando não era nenhum dos casos. Pela cara eu chutei turco, mas na verdade isto não me interessava mais do que o fato da música ser super acessível, embora vinda de países distantes. Mas ontem fui lá sozinha, e sentei no bar, sem nenhuma intenção a não ser tomar uma cerveja antes de voltar a pé para casa, meu exercício anti-enferrujamento computadorístico. A cadeira me pareceu uma peça de design, (Mies van der Rohe? algo anos 50) só que com pés longos e encosto, o que é raro em bancos de bar.
Pedi a cerveja em alemão, embora já tivesse notado, da outra vez em que estive lá, que o bar tender não era alemão e não falava a língua muito fluentemente. Reparei na freguesia, enquanto minha atenção estava sendo constantemente distraída pela luz azul piscante da ambulância na rua, vinda do outro lado das grandes janelas. O bar é super confortável, grande e com poltronas e sofás antigas, nada de 10 mesas iguais cada uma com 4 cadeiras: a decoração era irregular, tanto nas peças quanto na distribuição delas pelo espaço. Ao meu lado esquerdo fui surpreendida por um telefone modelo Bell verde Perguntei ao garçom barbudo se ele funcionava e fui logo tirando o fone do gancho. Ninguém perguntou por mim, não dava linha.
Foi quando meu exercício de observação foi interrompido por respingos de água, vindos da pia exatamente do outro lado do bar, onde o bar tender tinha acabado de lavar um copo. Não disse nada, e reparei que a superfície do bar estava completamente respingada, e eu lembrei das letras pintadas na arquibancada do Sea World de Miami, nossa, fazem quase 30 anos: "Splash area". À minha risada e ao meu aviso divertido não ouve muita reação. Não demorou muito para o outro garçom splashear alguém, desta vez um cara que eu achei com jeito de pesquisador, sério mas disposto a humor. Ele estava de costas, e apesar da imagem construída (na minha cabeça, é claro), o garçom não se arriscou e me disse: "sag nichts, aber der ist komplett naß" (não diz nada, ele tá todo molhado). Eu olhei e vi a jaqueta do pobre, na altura do cotovelo, enquanto o atingido já se dirigia à porta: espero que o tecido seja espesso o suficiente.
Foi depois desta intervenção que uma
garota chegou perto do telefone e o garçom perguntou de onde ela
era, ao que ela respondeu "Sydneymelbourne". Fiquei
intrigada: não são duas cidades diferentes? Sim, ela confirmou, e
eu pensei, mais um problema causado pela pergunta "de onde você
vem?" (tom abobado): a maioria "vem" de mais de um
lugar, o que pode dar motivo para uma conversa mais íntima, da qual
nem todo mundo está a fim no burburão dos bares de Berlim. A garota
perguntou se o garçom conhecia a Austrália, ele disse que gostaria
muito, mas primeiro queria viajar pela América do Sul.
Neste momento minha curiosidade se
aguçou: o suposto paquistanês queria conhecer a América do Sul?
Interessante, o bar estava começando a se tornar um ponto onde
espaço e tempo fogem à definição. Sentindo-me um pouco mais
próxima do garçom barbudo deixei o escrúpulo de lado e perguntei a
ele de onde ele vinha. Surpresinha: Argentina! E foi saindo de trás
do bar para levar a bebida.
Muito bem, o suposto Paquistão tem
habitantes que reconheço como vizinhos, bah, onde mesmo? No Brasil?
Em Berlim?
Esperei ele voltar e o momento certo
para perguntar, "de donde?", no meu portuñol perfeito. Ele
disse, sem se espantar com o fato de eu estar falando espanhol,
"Buenos Aires". Muito bem, vizinho, eu sou de Santa
Catarina, disse sem medo de ser precisa. Ele "de Brasil?".
Si. "Entonces no eres alemana?" No.
O blabla continuou e ele me contou que
tinha morado com 5 brasileiros e que falava portuñol, ahah, eu
lembrei de um comercial da Telecom argentina, em que o cara ligava
para uma pousada em Florianópolis para reservar um "quartinho"
etc... e o espaço metafórico do local continuou a se ampliar,
quando Emanuel, o argentino, me disse que a república com os
brasileiros tinha sido em Dublin. Nossa, nossa, que loucura. Sim,
muitos brasileiros invadem a pequena capital da Irlanda para aprender
inglês.
Nisso chegou no balcão a Djane,
dizendo em espanhol que um dos "platos" não estava
funcionando. Me ofereci pra ajudar, e ela disse que suspeitava da
agulha, com jeito de "já sei não preciso de ajuda",
continuei na minha. Quando ela se foi, perguntei a Emanuel se ela era
uma amiga, ele contou tê-la conhecido no dia anterior, quando ela
veio com todos os seus discos, e foi logo embora, pois tinha se
enganado com a data.
Neste ínterim, eu já havia descoberto
que o outro garçom era de Roma, e ao tomar conhecimento disto
comecei a reconhecer a melodia de seu italiano, pois ele lembrava um
amigo meu romano bem falante de Viena. Talvez por ele usar chapéu, talvez por
ele ter sido o primeiro que conheci desde a primeira vez que fui ao
bar, pensei que poderia falar com ele se quisesse, eu mesma, colocar
música no bar. Para minha surpresa, ele não sabia nem o nome da
pessoa responsável pelo agendamento de djs direito, disse apenas
para eu deixar o contato (nossa conversa migrou do alemão para o
inglês, pois eu vi que estava difícil), mas não esperou minha
reação nem me deu papel e caneta ou um livro de endereços para eu
escrever meu nome.
Voltei ao meu novo amigo Emanuel e
comecei a investigar o staff do bar: não, o outro garçom
definitivamente não era o dono, e sim, um turco rico. Mas quem
organizava os eventos era um alemão, um tal de Jan, um alemão. Pedi
um papel e coloquei meu myspace, será que pus meu nome ou telefone?
Nestas alturas eu entendi que os dois
bar tenders eram apenas bar tenders, e foi por terra toda a teoria,
de que o cara de chapéu e óculos geek era o dono do bar, e mais
ainda, que ele era do Paquistão.
O dj da outra noite, só por
curiosidade, era israelita, e costumava ser cozinheiro no bar.
Santo espaço-tempo indefinido, Batman,
quem precisa da internet?
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