Anunciando Halloween, Abracadabra é o
novo longa de Lucile Desamory, com a atuação sonora de
Nicholas Bussmann. A premiére para convidados foi ontem 28.10.30 no
Cinema Paris em Berlim.
Nicholas Bussmann und Lucile Desamory no Cinema Paris - 2013©Laura Mello |
Um filme sobre o que? Um filme de
suspense, com certeza. Começa com Grusel (Horror), a tensão vai
aumentando, até chegar a um ponto, e dele não sair mais. Alguns
sustos inofensivos, pois se repetem, e no fim, já os conhecemos,
embora ainda não saibamos qual a sua origem.
Uma solução para o mistério não há.
Só a constante tensão e o som, o sound design, a música, todos
eles formam um elemento sonoro só, com um papel tão essencial
quanto as imagens. Afinal, se não se pode identificar a história,
então pelo menos as personagens da narrativa: imagens - em cenário
cuidadosamente produzido - e o som, transmitido na sala através do
sistema Dolby Surround 7.1 do Cinema Paris.
Neste sentido, os atores são quase
parte do cenário, quase elementos de efeito, par a par com o ruído
do vento ou dos pássaros pernaltas da paisagem belga. Pouco falam:
interagem entre si e até mesmo com os alto-falantes dentro do
cinema. "É som? De onde...?" - soa dentro da cabeça da
personagem principal enquanto seu olhar circunda a sala, as paredes
pintadas de nuvens.
O filme de Lucile Desamory é uma
obra-prima de intermídia: nele, as linguagens visual e sonora
"conversam", repetição e recursividade são os recursos
utilizados pelos autores para familiarizar o público aos poucos com
os elementos do filme. Longas passagens em plano aberto anunciam
temas visuais a serem explorados no cenário. Sequências narrativas
são apresentadas utilizando-se apenas recursos sonoros, e repetidas
à exaustão, mesmo quando não fazem o menor sentido cronológico, e
então é a vez das imagens repetirem-se, completando ligações
nunca dantes esperadas.
O espectador vai aos poucos abandonando
a idéia de tempo cronológico, e quem se liberta flutua na
profundidade das paisagens, deixando-se levar pelas orelhas,
descontinuamente, através dos inúmeros corredores e quartos da
antiga mansão onde foi filmado.
O som extremamente presente, que parece
um erro de mixagem no início do filme, cumpre sua função de arauto, mostrando ao espectador que o som está aí sim e como!
Através da utilização refinada e econômica da projeção sonora
em Dolby Surround, até mesmo a sala de cinema acaba sendo envolvida
na obra. E durante os letreiros, como tema final do filme, a
autora-cantora-cenografista enuncia a pergunta-resposta ao início deste post "Why should we name
it?"
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